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A SOCIEDADE INTERNACIONAL E O SÉCULO XXI: em Busca da Construção de uma Ordem Mundial Justa e Solidária – GILMAR ANTONIO BEDIN

A SOCIEDADE INTERNACIONAL E O SÉCULO XXI: em Busca da Construção de uma Ordem Mundial Justa e Solidária – GILMAR ANTONIO BEDIN

· O fenômeno da globalização no mundo:

1. Grande mudança histórica: a configuração do mundo como um sistema global é, sem a menor dúvida, um dos mais significativos acontecimentos políticos, econômicos e sociais das últimas duas ou três décadas. “Caracteriza-se pelo aparecimento de um conjunto de novas possibilidades concretas, que modificam equilíbrios preexistentes e procuram impor sua lei [e suas determinações]”.

A globalização do mundo foi fundamental para o delineamento da crescente complexidade das relações internacionais, para a configuração de uma polaridade incerta e para o stabelecimento de vínculos mais estreitos de cooperação entre os principais atores da sociedade internacional da atualidade.

Portanto, o fenômeno da globalização do mundo “constitui o estágio supremo da internacionalização, com a amplificação em ‘sistema-mundo’ de todos os lugares e de todos os indivíduos, embora em graus diversos”. O mundo tornou-se um único lugar para todos os seres humanos e que os principais problemas e alguns de seus interesses mais relevantes adquiriram o caráter de questões mundialmente interdependentes ou globais.

Assim, com o fenômeno da globalização do mundo, tem-se a conformação de uma nova etapa do desenvolvimento da humanidade, que produz uma surpreendente redefinição das noções de tempo e, especialmente, de espaço, conduzindo a uma diminuição das distâncias e tornando instantâneo qualquer acontecimento em qualquer lugar do planeta. Este como “um território de todo o mundo. Tudo se desterritorializa e reterritorializa”. As fronteiras são “abolidas ou tornam-se irrelevantes ou inócuas”.

2. Lento e surpreendente deslocamento: o fenômeno da globalização é muito mais o resultado de uma longa, lenta e quase imperceptível evolução da sociedade moderna do que o desfecho imediato e inexorável de um fato isolado, por mais relevante que ele seja.

Lester THUROW esclarece que hoje o mundo está vivendo um típico período de equilíbrio interrompido e que ao final das transformações atuais irá emergir um novo mundo ou um novo jogo, o que exigirá novas estratégias de sobrevivência. Neste sentido, alguns dos atuais participantes irão adaptar-se e aprender como vencer nessa nova realidade e segundo as novas regras estabelecidas. O equilíbrio interrompido como a súbita mudança no ambiente e aquela que havia sido a espécie dominante desaparece rapidamente e é substituída por outra.

3. Causa do fenômeno: a) o fim do comunismo, o que deixou sem competidores o sistema capitalista; b) a emergência de uma era de indústrias de inteligência artificial criada pelo homem, o que proporcionou a desterritorialização da produção e a anulação de qualquer vantagem relativa; c) o grande crescimento, deslocamento e envelhecimento da população mundial, o que conduziu a profundas mudanças no sistema capitalista; d) a emergência de uma economia global, o que possibilitou que qualquer bem possa ser produzido em qualquer parte e vendido em todo lugar; e) a configuração do mundo como um espaço político multipolar sem um poder hegemônico, o que conduziu à descaracterização, até certo ponto, da divisão do mundo entre primeiro, segundo, terceiro e quarto mundos e relativizou as relações centro-periferia e as relações Norte-Sul. Tais causas são de autoria de THUROW.

Para Ricardo Pacheco, por sua vez, as causas são: a) demográficas (a explosão populacional); b) causas tecnológicas: alocar consideráveis parcelas de suas vultuosas receitas fiscais em pesquisa e desenvolvimento tecnocientíficos; c) causas políticas: redução considerável dos riscos de ordem geopolítica; d) causas institucionais: tarefa “de regular a ordem internacional”.

A Era da Globalização, caracterizada por uma hegemonia da economia global sobre a economia dos estados nacionais, isto é, da supremacia dos atores globais sobre os atores geopolíticos.

4. Metáforas do fenômeno: é que se tratando de uma ruptura drástica nos modos de ser, sentir, agir, pensar e fabular até então existentes, torna-se importante lembrar que “a descoberta de que a Terra se tornou mundo, de que o globo não é mais apenas uma figura astronômica, e sim o território no qual todos encontram-se relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos, essa descoberta surpreende, encanta e atemoriza.

5. Globalização: ideologia e realidade: para alguns, o fenômeno da globalização do mundo é menos uma realidade e muito mais uma projeção ideológica das grandes empresas transnacionais e dos grupos financeiros internacionais interessados apenas em maximizar os seus lucros e diminuir os seus custos. “Um conjunto de estratégias para realizar a hegemonia de macroempresas industriais, corporações financeiras, empresas de produção cinematográficas, a televisão, música e a informática, para apropriar-se dos recursos naturais e culturais, do trabalho, o lazer e o dinheiro dos países pobres, subordinando-os à exploração concentrada com que esses atores reordenaram o mundo na segunda metade do século XX”.

Há também aqueles que atribuem à própria noção de globalização “um caráter puramente mítico, pois consideram que a fase atual da internacionalização da economia, além de responder a um processo plurissecular imanente ao capitalismo, não é inédita, já que apresenta notáveis similitudes, em matéria de comércio, finanças, investimentos diretos, com a fase de internacionalização do início do século sob a Pax Britanica”.

Não se pode deixar de indicar que, do ponto de vista desta pesquisa, elas cometem um duplo equívoco: confundem o fenômeno da globalização do mundo com o fenômeno do neoliberalismo e subestimam o alcance das transformações das últimas duas ou três décadas do século XX.

Portanto, sem deixar de levar em consideração as críticas feitas pelos pesquisadores há pouco referidos, reafirma-se que o fenômeno da globalização possui uma especificidade própria, não se confundindo com o neoliberalismo, e que suas consequências são relevantes o suficiente para caracterizar a emergência de uma nova era na caminhada da humanidade: a era do globalismo.

“Em primeiro lugar, que a globalização implica uma mudança histórica fundamental na escala das organizações econômicas e sociais contemporâneas; em segundo lugar, que ela não se constitui em uma condição singular, mas em um processo multidimensional em que o crescimento dos padrões de interconexão global alcança todos os domínios institucionais-chave da vida social moderna (econômica, cultural, tecnológico, político, legal, ambiental e social), embora cada um deles conheça escala, intensidade, dinâmica e impactos diferentes; por último, que a globalização envolve, necessariamente, organização e exercício do poder social em escala transnacional intercontinental. Isto significa que ações, decisões ou omissões levadas à frente por atores internacionais em um continente, por exemplo, podem ter consequências de peso para nações, comunidades, famílias, etc., de outro continente”.

6. O Estado moderno e o impacto da globalização: pode-se dizer que o Estado moderno foi e continua a ser, em certo sentido, um dos maiores e mais essenciais fenômenos que a engenharia política e a sociabilidade humana conseguiram produzir em todos os tempos. No entanto, não é possível desconhecer ou deixar de perceber que o Estado moderno passou a desempenhar novas funções – entre as quais se destacam as funções de auxílio à formação dos blocos econômicos regionais e a de fomento à organização e à criação de inteligência artificial.

Essa relativização da soberania e da autonomia do Estado moderno é um dos acontecimentos mais importantes da sociedade internacional contemporânea, constituindo-se, portanto, no pressuposto estruturante de uma nova era: a era da globalização.


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